Na próxima sexta-feira estreia a aventura Percy Jackson e os Olimpianos – O Ladrão de Raios, adaptação do best-seller de Rick Riordan. O filme, que é a nova proposta da Fox para inserir a sua série do gênero no cinema, erra logo na primeira tentativa e, ainda sem um público geral formado, se arrisca em fazer alterações que comprometem a qualidade narrativa do longa, oque pode afastar a única plateia certamente presente nas salas de cinema: os fãs.
Se uma adaptação sofre com os ataques dos críticos por possíveis furos do roteiro, logo uma legião de fãs do original se ergue em defesa do filme, alegando que “a história é assim” e, portanto, não merece tais comentários negativos. Entretanto, se é a própria história que já carrega os defeitos, então é ela que não tem tanto valor artístico assim. De um jeito ou de outro, o problema continua a existir. Bem se esquecem que, justamente por ser uma adaptação para outra linguagem dentro do campo da arte, a possibilidade de alterações é infindável, o que extermina qualquer lógica em manter num filme os mesmos erros de um livro. Percy Jackson e os Olimpianos – O Ladrão de Raios já não é passível deste tipo de reação dos fãs. Fazendo profundas alterações na trama do best-seller de Rick Riordan, o filme afunda nas suas próprias águas.
Há tempos que os estúdios tentam lançar o seu rival à altura comercial de Harry Potter e, mais uma vez, não funcionou. Percy Jackson leva às telas um livro que patina na previsibilidade a todo tempo, no qual os mistérios e suspenses só existem efetivamente para o personagem central, jamais para o leitor. No filme, a coisa desanda em proporções bem maiores. É uma verdade absoluta que todos (sem exageros) os livros recordes de vendas já transpostos para o cinema perderam algumas páginas no caminho até as telonas. Cortes absurdos já foram feitos não só na série Potter, mas em todas as adaptações recentes que pertencem à temática fantasiosa, que hoje consome o dinheiro e tempo dos jovens como uma torneira aberta. Crepúsculo, Nárnia e até o aclamado O Senhor dos Anéis; todos tiveram a sua vez na sala de mutilações. Mas Percy Jackson vai além: não só altera e corta como também retira certa identidade da narrativa e compromete a qualidade do filme. Realmente, o roteiro não tem tantas pontas soltas, mas a sensação é que isso é resultado de uma raspagem tão agressiva que só restou ao script o estritamente necessário, sem margens para dúvidas, algo que dificilmente pode ser confundido com coesão.
O maior tombo de O Ladrão de Raios é utilizar a reforma em sua estrutura na direção errada. Cheio de boas intenções em tornar a produção agradável, mais próximo da absorção infantil e, obviamente, comercial (falhou aqui mais uma tentativa de franquia de sucesso), o diretor e roteirista Chris Columbus aniquila qualquer chance do longa atingir um bom nível. Ao contrário de muitas das alterações em produções similares, as presentes em Percy Jackson jamais estiveram ali para tornar o filme mais equilibrado ou minimamente desenvolto, e sim para deixar o trabalho de condensação mais fácil. Reprovador de comparações, Columbus, que possa perdoar, mas para um diretor que fora erroneamente aclamado por uma quantidade considerável de fãs por ter sido o “responsável” pela fidelidade de Harry Potter e a Pedra Filosofal e Câmara Secreta (os dois filmes mais fracos da série – em aspectos gerais), deixou muito a desejar – o que só prova o abismo que pode existir entre o trabalho de um diretor e roteirista. No caso, Columbus se provou banal nas duas especialidades.
Rude na escrita do roteiro, o diretor repetiu a dose no comando do projeto, esclarecendo que nesta posição se faz humildemente inferior ao bom produtor que é. Demos os méritos: Chris é um dos poucos produtores que tem um ótimo senso para seleção de elenco e equipe técnica, e manteve o bom gosto em O Ladrão de Raios pelo menos no elenco estelar. Mas não fez o mesmo com os responsáveis pela pós-produção. As cenas de ação são medianas por se valerem de uma computação gráfica que pouco impressiona para criar seres e criaturas fantásticas, apesar da boa sequência com a Hydra, uma besta de três cabeças; isso sem mencionar a raiz dos cabelos da Medusa, previamente denunciada pelos últimos pôsteres. Já as cenas de ação, como a do clímax, estragam qualquer possibilidade de empolgação. A luta final entre Percy e seu inimigo (mudanças extremas aplicadas aqui) é o ponto alto da falta de coordenação e do péssimo manuseio de elementos virtuais em cena para enquadrar a fonte
de conflito, causando uma confusão visual que inspira a desistência de acompanhar o embate. Mas nada substitui o desconforto em uma coreografia descartável da música "Poker Face”.
Felizmente, o pouco que Columbus tem para bem lhe servir surtiu algum efeito. Pierce Brosnan (Chiron) tem uma excelente postura e expressão para um ator que sabe que futuramente terá as pernas substituídas pelo corpo de um cavalo e Logan Lerman é, sem dúvida, uma escolha anos-luz superior em talento do que opções para protagonistas de filmes anteriores do diretor. Uma pena que a total entrega dos astros aos seus papéis se resuma aos dois.
Percy Jackson e os Olimpianos – O Ladrão de Raios pode não ter, desde o seu livro, todos os elementos necessários para alcançar um sucesso colossal (ainda há quem nem saiba do que se trata, ou jamais tenha ouvido falar da série de livros – e não são poucos), mas tinha material para criar uma boa aventura que despertasse o interesse do público em geral. Soube dar um tiro no pé que sustentava os fãs e no outro que poderia dar o pontapé para agradar a um público ainda não-familiarizado. Agora que Columbus, o mais fiel dos diretores, descascou uma obra deste porte, qual é o fã que se atreverá a defender o filme alegando que “a história é [fraca] assim”?
Nota dada pelo site: 5
por Arthur Melo
12 de fevereiro de 2010
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